 Uga,
O Caranguejo de Coco de Niue
(Nome científico:
Birgus Latro
Niuenses)
Ugas
habitam Niue muito antes do Capitão Cook ter levado
uma mordida na bunda de um deles. O episódio foi
exaustivamente relatado em nosso tópico sobre a história
de Niue. Esses animais habitam algumas ilhas do
Pacifico e em muitos lugares encontram-se em
extinção pelo simples motivo de ser fácil de
capturá-lo e de serem deliciosos. O bicho se assemelha a uma
lagosta,
só que muito maior do que qualquer lagosta que
você já viu. Ugas são primos anabolizados do
caranquejo ermitão
(aquele que carrega a concha nas costas), e se
alimentam exclusivamente de coco, principalmente o
que acabou de cair do coqueiro. Com suas garras
ultra potentes, Ugas são capazes de tranquilamente
aparar suas unhas na altura da junção dos dedos
com a mão, já que todos os dias eles abrem buracos
no coco com casca e tudo, até chegar na carne
branca no interior.
Ugas
nascem no mar,
geralmente dentro de cavernas marinhas, e mais tarde
decidem ir viver em terra até o momento de botar
ovos, quando então voltam para o mar. Por esse
motivo, Ugas não vivem
longe da costa, entrando terra adentro no máximo 2
quilômetros, ainda mais que se forem mais para
dentro, correm o risco de a pouca umidade ressecar
os brônquios e eles morrerem sufocados. Pelo grande tamanho, Ugas
são criaturas
lentas, e podem ser facilmente capturados com a
própria mão, desde que se saiba onde segurar. O
cúmulo da paciência seria assistir a uma corrida de um Uga
contra uma tartaruga, ou uma lesma. Sua carne é
meio doce que já vem naturalmente temperada no leite de
coco. É possível encontrar ainda Ugas servidos em restaurantes do
Pacífico Sul, mas alguns países como Vanuatu por
exemplo, já proibiram a prática. De qualquer
forma, os nativos adoram a carne do Uga muito mais
do que a da lagosta, e por isso os capturam
frequentemente.
Ninguém
sabe ao certo
quantos Ugas existem em Niue. A última estimativa
feita foi em 1990, e indicou uma população de
aproximadamente 180 mil
caranguejos. Isso parece muito mas não é, porque
com 20 mil Niuenses, isso daria somente 9 Ugas para
cada um para total extinção. Como um Uga leva 6
anos para atingir a maturidade e procriar, nas
nossas contas acima daria 2 Ugas por ano para cada
um para levá-los a extinção. Ugas em Niue não tem
só o
homem como predador. Gatos domésticos e galos e
galinhas que se aventuram pela floresta, conseguem
matar um Uga ainda quando pequeno. Alem disso, a
estrada que circunda Niue segue beirando o mar, e
por causa disso muitas fêmeas são atropeladas
quando cruzam a estrada em direção ao mar para
colocarem seus ovos. Todos esses fatores em
conjunto fazem com que os Ugas possam ser
considerados animais seriamente em extinção,
porém em Niue, ainda não existem leis proibindo a
captura.
Ugas
podem crescer
até 4 quilos sendo que os machos chegam a ter uma
largura toráxica de 32 centímetros enquanto as
fêmeas cheguem a 29.
Esses incríveis animais chegam a viver 40 anos, o
que constitui um problema, já que seria um problema
encontrar uma panela grande o suficiente para
cozinhá-lo. Ugas são territoriais, e não saem muito do
local onde escolheram viver, em outras palavras,
alguns machos vivem com algumas fêmeas em uma
determinada área. Na medida que um ou outro morre,
outros Ugas não vêm ocupar o
lugar do falecido(a). Assim sendo, aquela comunidade
tende a encolher, já que os baby Ugas ao nascerem, formam
novas comunidades numa área com coqueiros onde não
haja concorrência para comida. Como só comem o coco maduro
que cai do coqueiro, a destruição de áreas de
coqueirais pode provocar uma falta de alimento para muitos deles. De qualquer forma a pior coisa
para um Uga continua sendo o fato de sua carne ser
muito apreciada em Niue, muito mais do que outros
frutos do mar.
Uga
tem gosto de Uga
e não existe comparativo. Nós queríamos
experimentar o Uga, só para saber que gosto tem,
mas não queríamos comprar no mercado nem comer no
restaurante para não contribuir com a exploração
e extinção desses animais. Porém, um dia
vínhamos devagar pela estrada, quando vimos um Uga
atravessando a mesma. Paramos o carro, e ficamos
observando a criatura por uns instantes. Era um
macho de tamanho médio com talvez 20 anos de idade.
Com cuidado resolvemos capturar o bicho e comer-lo no jantar. O primeiro problema foi
que não havia panela de tamanho suficiente que o
bicho coubesse dentro. O problema não durou muito,
pois todo mundo em Niue tem um desses caldeirões e
conseguimos um emprestado. Aprendemos com eles a
receita para cozinhá-lo, que na verdade de receita
não tem nada, pois basta cozinhá-lo por 10 minutos
na água fervente e pronto. Ao final, o Uga fica
vermelho e por cima dele fica uma borra amarela
cobrindo o bicho que é o óleo e a gordura do coco
dissolvida. Os Niuenses comem essa borra, mas nós
resolvemos dispensá-la. O gosto do Uga é uma
mistura de lagosta com caranguejo, sendo a carne
ligeiramente adocicada e com um pouco de gosto de
coco. Depois de comermos uma certa quantidade
achamos a carne um pouco enjoativa, e acabamos com a
boca como se estivéssemos comido um tubo de WD-40.
Completamente oleosa. Dividimos o Uga com um outro
casal da Nova Zelândia que estava na mesma pousada
que nós, e no final ainda sobrou carne.
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Quando
capturamos o Uga, colocamos ele dentro do
saco de material de mergulho, pois não
tínhamos outro lugar para colocá-lo. Só
que na hora de tirá-lo do saco, o bicho
mordeu a minha máscara de mergulho e não
quis soltar (foto). Chamamos a nossa amiga Rupina, a
dona da pousada, e ela nos ensinou que para
um Uga abrir as garras, basta pegar um
pedaço de graveto e enfiá-lo no orifício
anal do Uga. Tiro e queda, funcionou que foi
uma beleza. |
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